segunda-feira, 9 de junho de 2008

Acordemos para o acordo

O tema deste meu novo devaneio é o “fresco” acordo ortográfico e sobre ele vou expor o que me vai na alma, doa a quem doer e rebaixando quem quer que se sinta rebaixado, pois neste campo só um facto deve prevalecer, a língua Portuguesa.
Não se iludam os defensores do facilitismo nem mesmo se enganem os que apoiam o evolucionismo, este acordo serve apenas e só as grandes editoras e produtoras que procuram única e simplesmente obter lucros com as vendas, quer em solo pátrio, quer nos outros territórios lusófonos. Já agora, quem acham que lucrará com todas as traduções e produções futuras, independentemente de serem livros, televisão ou cinema, já para não falar de qualquer tipo de manuais?
Bem, quanto a isso basta olhar para a oferta no solo “irmão” e será fácil de prever que o desemprego nestas áreas irá aumentar em muitos pontos percentuais neste nosso “endinheirado” país.
No que diz respeito ao facilitismo, esta é apenas uma desculpa, para os que não vêem, ou será vêm… não importa pois pode-se sempre simplificar com um novo acordo e assim deixar de errar. Mas e o que foi que viram, ou não?
Viram que mais vale mudar uma ortografia, que educar “analfabetos” a entende-la, pois para quem tem a capacidade de o entender pode facilmente reaprender.
Dirijo-me agora para os adeptos da evolução cujo argumento se baseia em parte no facilitismo acima descrito, mas também no estudo do passado pois de pharmácia passámos a farmácia e por esta ordem de ideias acabaremos todos a emitir os grunhos necessários para o dia-a-dia.
Os teóricos da evolução dizem que o ser humano continua na sua metamorfose evolucional e que num futuro próximo deixaremos de ter o dedo mindinho, as orelhas, os pelos e mesmo o nariz. Obviamente que ninguém no seu perfeito juízo dirá que estas serão evoluções que irão beneficiar a nossa aparência, mas infelizmente, estas não estão dependentes da nossa consciência, ignorância ou mesmo ganância.
Chega assim o momento de colocar na mesa os meus próprios motivos, as razões que me levam a repudiar por completo este (des)acordo ortográfico.
Começo por perguntar qual é a fronteira que separa a evolução útil e saudável, da evolução inútil e destrutiva?
Bem, a separação do átomo foi uma grande evolução da ciência, mas terá sido uma evolução saudável?
Acredito que os japoneses não tenham essa opinião.
Tal como a bomba foi para a civilização, esta “evolução”, nada mais é que o começo do retrocesso para o intelecto e sabe Deus onde acabará…
Um segundo motivo é a cultura de que todos nos devíamos orgulhar, pois apesar de sempre termos tido até aos dias de hoje péssimos regentes a comandar os destinos deste país, isto sim é triste e é o nosso fado, nunca faltou a este povo uma alma e um coração nobre, transpondo magnificamente as barreiras do espaço e do tempo através do seu mais valioso tesouro: a língua portuguesa. É este detalhe que faz de nós o centro de um império inexistente fisicamente, mas real culturalmente em quatro dos cinco continentes.
É preciso tomar consciência que este acordo acaba por castrar tão imponente vontade destes poucos que muito fizeram pelo mundo, tornando este país, outrora colonizador, num país que progressivamente está a ser colonizado por um sem fim de energúmenos que tudo devem a esta “pequena” nação e que agora tentam ditar as regras de um jogo que nunca tiveram sequer a competência de perceber.
É dito constantemente que a escrita evolui consoante a oralidade e que esta deve sempre primar sobre a escrita; ora se nos dias que hoje correm cada vez se fala pior, isto implica, e aqui entra o acordo, que se venha a escrever de igual modo.
Recuso-me a aceitar uma lógica imbecil como esta.
Recuso-me a aceitar que venham brasileiros, angolanos, cabo-verdianos entre outros, dizer-me a mim, ou melhor a nós povo português, que os presenteámos com a graça da nossa língua, como a devemos escrever.
O português não precisa de erros ortográficos para se afirmar como língua perante o mundo, este é um pensamento próprio de derrotistas submissos que tremem como escroques cobardes perante um qualquer Ipiranga quando aos seus pés jazem sete mares e um domado Adamastor…

3 comentários:

Unknown disse...

A questão do acordo é uma questão muito complicada e muito sensível, eu nesta questão encontro-me um pouco dividido, por um lado temos a nossa língua, a nossa tradição e cultura, por outro uma necessidade de evolução.
A língua é uma coisa que não é fixa, está em constante mutação e com ela a ortografia, por isso é que quando Portugal nasceu como nação tinha uma língua quase igual ao Castelhano e agora é totalmente diferente e independente. Agora essa evolução tem de ser natural, que vai crescendo aos poucos, não por imposição como está a acontecer com o acordo, concordo com algumas das alterações propostas no acordo, em outras sou totalmente contra, só acho que tem de haver equilíbrio, sensatez e bom senso nesta questão, isso é que é o mais importante.
Abraço
Pipas

paula silva disse...

Afinal já começou a epopeia na blogosfera. Parabéns!!!
Já conhecia os textos, por razões óbvias, a qualidade é muito boa... principalmente para quem se diz ninguém... qual folha em branco, qual alfabeto, qual metamorfose geométrica, qual sem-sentido... És um ser humano excepcional... e isso é que conta. Tens convicções, o que é importante e acima de tudo tens espírito crítico e audaz!!!
Parabéns pelo novo Blog... continua a postar que eu cá virei espreitar... e direi sempre o que no momento julgar adequado, ou não... on vera!!!
Beijinho

paula silva disse...

A questão é simples: eu vou continuar (chamem-me teimosa se assim entenderem) a escrever facto, quando se tratar de um acontecimento, e fato, quando se tratar de um conjunto de roupa para vestir. Recuso submeter-me a esta subjugação globalizante sem critério, a esta analfabetização por decreto... Eu sou a minha língua... é com palavras que me entendo ou desentendo, que comunico, que penso, que desatino, que reflicto... com palavras e siêncios cresci, num processo complexo de desenvolvimento que não vão agora desconstruir(me), por razões económicas e de poder duvidoso...
Eu discordo do acordo!!!!
Discordo de qualquer facilitismo embrutecedor...
Tenho dito!